Acadêmica realiza o estágio em turma da Educação Básica do Instituto Ivoti
- Categoria: Ensino Superior
- Data: 02/07/2021 00:00
Ivoti - A acadêmica do Curso de Letras Português e Alemão do Ensino Superior do Instituto Ivoti, Andréia Schneider, realizou seu estágio da disciplina de Língua Portuguesa em uma turma de 8º ano da Educação Básica da instituição, que tem a professora Andréa Camargo como titular. Durante o estágio ela trabalhou com os alunos o gênero crônica.
“O livro didático propõe vários aspectos relevantes sobre o gênero, mas nós fomos além e inclusive conversamos com um autor sobre o processo de escrita dele. A ideia de produção final era escrever uma crônica de humor e proporcionar aos leitores uma dose de riso e crítica”, destacou a acadêmica.
O estágio ocorreu entre os dias 17 de maio e 21 de junho e a acadêmica selecionou algumas crônicas publicadas pelos estudantes:
Sapatos - Crônica Luiza Rocha
Dave e Mary foram casados por três longos anos e foram a um cruzeiro para comemorar. Dave tinha seus 35 anos enquanto Mary tinha 33. Ela convenceu Dave a comprar passagens para esse passeio e, como sempre, ele foi vencido. Infelizmente, o navio passou perto de mais de uma rocha, causando um estrago enorme na embarcação, o que levou o barco a afundar. Sem botes salva vidas para todos os passageiros, Dave e Mary pularam no mar. Como um cavalheiro sempre faz, Dave ofereceu à sua esposa um pedaço de madeira que estava boiando, enquanto ele ficava imerso na água do mar.
- Droga, a água está muito fria! Mary, como eu queria que tivesse mais espaço nesse pedaço de madeira...
- Oh, Dave, eu gostaria muito que você ficasse nesse pedaço de madeira comigo, mas assim não teria espaço para guardar meus sapatos!
- Querida… espera, você disse que não tem espaço aí em cima por causa dos seus sapatos?
- Dave, não podemos compartilhar nossos últimos momentos juntos? Por favor, não vamos falar sobre isso agora.
- Na verdade, nós vamos falar sobre isso agora. Você está escolhendo seus sapatos ao invés de mim?
- Você não entenderia, Dave. Eu preciso me sentir bonita!
- Nós estamos à beira da morte num oceano enorme. Por que você precisa se sentir bonita agora? Quem você pensa que vai vir nos resgatar?
- Você é tão egoísta, Dave.
- Eu te odeio.
- Não diga coisas assim, por favor.
- Se tivesse uma lista das piores pessoas do mundo, você provavelmente seria a primeira. E se não fosse, estaria nas cinco piores. Hitler seria o primeiro, depois estaria Dan Schneider e depois você. Quer saber? Prefiro que o oceano seja minha companhia do que você. Adeus.
E Dave se afogou no mar. Na realidade, Mary não ficou muito chateada, porque estava mais preocupada com seus sapatos do que com seu, agora morto marido.
Uma consulta ao médico - Crônica Caio Silva
É fácil de reconhecer quem está paranoico com a pandemia. Os que saem de casa só para ir ao mercado são um exemplo. Outros, olham para todos ao seu redor, receosos de que alguém se sente próximo. Quando alguém tenta puxar assunto ele desvia o olhar, para de respirar, e se afasta.
Chegando com antecedência para uma consulta, Carlos se dirige ao elevador, ele precisava subir 12 andares. Ele espera não ter ninguém no pequeno compartimento para então poder entrar. O elevador pára no 5 andar, e ele precisa dividir o espaço com uma família. Rapidamente, ele verifica a indicação de peso e quantidade de pessoas por metro quadrado que está registrada no adesivo acima dos botões, do lado direito da cabine.
- Filha, acho que vamos nos atrasar para o seu exame. - Falou o pai.
- Ah pai, eu estava tão animada. Gosto tanto de dentista. - Sarcástica a menina desenrola seu pensamento. -... mas eu te perdoo se me comprar um sorvete. - Finalizou a pequena a criança.
- Você não perde uma chance, né? - Falou o Pai
Com um grande sorriso debaixo da máscara, a menina faz uma pergunta, enquanto pega na mão de Carlos.
- Você veio fazer uma consulta também?
Desesperado, Carlos aperta o botão para abrir a porta, e sai correndo. Por sorte o elevador tinha chegado ao 10º andar. Decide subir os próximos andares de escada, sem encostar no corrimão, claro.
Como Carlos não se exercita com frequência, ele interrompe a subida no meio do caminho para fazer um lanche, comer um pastel de queijo e tomar sua água. Quem dera a falta de fôlego fosse resolvida somente com a prática de exercícios.
Quando chega ao andar de sua consulta, entra na sala de espera e percebe que há muitas pessoas aguardando atendimento, por isso se retira e decide sentar do lado de fora da sala até que chega a sua vez.
- Senhor Carlos, me acompanhe, por favor. - Fala a secretária.
Muito nervoso, ele acompanha a moça até a sala de seu médico.
- Olá, Carlos, como você está? - Pergunta.
- Bom, doutor, estou um pouco ansioso. - Responde Carlos.
- Não se preocupe, só iremos fazer alguns exames. - Fala o médico.
O doutor leva Carlos para fazer um Raio-x, e ele fica com medo da radiação. Há poucos dias assistiu à série Chernobyl e não quer ser exposto à toa. O médico explica que nada irá lhe acontecer. Com todos os exames realizados, ele aguarda os resultados. O médico lhe dá um diagnóstico inesperado. Carlos estava com um problema grave em sua coluna.
Com essa descoberta e o tratamento sugerido pelo especialista, Carlos terá que frequentar semanalmente o hospital. A ideia de precisar ver tantas pessoas, entrar no elevador, subir escadas e aguardar para ser atendido não o agradam muito. Sem compreender o motivo, ele passa a frequentar também o consultório de um psicólogo, pois seu médico disse que faria bem para o problema da coluna.
Eu tenho medo de agulhas - Crônica Sara Guimarães
Olá! Meu nome é Rebeca e eu tenho uma fobia chamada belonofobia. Sim, você pode perguntar “Mas Beca, o que é isso?”. Eu lhes respondo, caros amigos, eu tenho medo de agulhas. Tudo bem, eu sei como isso soa estúpido, mas eu realmente morro de medo de agulhas. Por algum motivo, sangue e machucados abertos não me assustam, mas coloque uma seringa com agulha na minha frente e verá o quão medrosa posso ser.
Acredite, essa não é a pior parte. O único jeito de eu literalmente não desmaiar, é cantando. Sim, cantando. Não precisa reler as últimas linhas, pois eu sei como isso parece estranho. Não me olha assim não!!! Em casos inevitáveis, as opções que tenho para você são: virar-se para socorrer uma menina desacordada toda atirada no chão, ou ouvir um clássico pop ockkpop.
A cada bateria de exames, essa conversa se repete:
- Então, oi - Cumprimento a técnica em enfermagem e contínuo. - Eu sei que isso vai parecer estranho mas, para que eu consiga me manter acordada e consciente enquanto você tira o sangue, eu tenho que cantar.
- Oh, humm, ok. - Reage surpresa e indica - Faça como preferir. - Conclui a técnica já preparando os materiais para a coleta de sangue.
- “Co-comparison is killin' me slowly,I think, I think too much, 'Bout kids who don't know me
- Uau, você canta bem. Será que posso pedir uma música?
- Eu não canto sertanejo, mas obrigada, será que tem como você ir logo com isso!!!
Sinceramente não sei porquê cantar me ajuda tanto, mas enquanto perturbar e cantar super desafinado uma música para os técnicos que só querem tirar seu sangue não for crime, eu estou bem.
O sabor da torta - Crônica Guilherme Rossato
Bruce está na festa de aniversário do seu primo mais velho. Se já não fosse suficiente comemorar o aniversário de alguém com quem tem pouco contato, Bruce está envergonhado e com medo das pessoas que ele não conhece. Sua mãe tenta ajudar dizendo:
- Filho, vai lá brincar com aquele menino. - Diz a mãe com um sorriso largo na intenção de fazer o filho se divertir um pouco.
- Ok. - Responde o garoto relutante por dentro.
Chegando próximo do menino, Bruce cumprimenta timidamente, o menino:
- Oi.
- Oi. - Responde o menino assustado.
- Qual é o seu nome? - Pergunta Bruce.
- André. Qual é o seu?
- Bruce.
A conversa sobre armamento, truques, e séries é interrompida pelo primo de Bruce, que estava com fome.
- Qual é o sabor da torta?
- Não sei. A festa é sua, não?
O primo se afasta e vai verificar a mesa de doces. O bolo ainda não está lá. A tia se aproxima carregando a bandeja com uma linda torta. O primo se estica para ver se descobre o sabor só de olhar. Nada. O cachorrinho que ganhou de aniversário, apavorado com o movimento, corre rapidamente por entre as pernas da mãe que se desequilibra e vira a bandeja na direção do filho. A mulher grita e o cão late. Na tentativa de escapar e não se melecar, o primo se curva 45º à esquerda e a torta cai no chão e Bruce fala:
- Bem, pelo menos agora ele sabe o sabor da torta!
Móbile dos Planetas - Crônica Laura Bergamo
Você já teve a sensação de olhar para o céu e pensar - “Nossa, o universo é tão grande, tão maior que eu?“- E, de repente, parecer que está olhando tão alto que vai cair para trás e desmaiar?
Olá, meu nome é Lizandra, sou professora de ciências e tenho um filho chamado Matteo, que estuda na mesma escola em que trabalho. Matt tem 6 anos e é um moleque bem agitado, que gosta de ser criança, brincar com os amiguinhos e fazer folia. Eu amo isso nele. Ele sempre gostou de super heróis e animais, não tem medo de fazer carinho, pegar no colo, etc. Com seus 5 aninhos, demos um cachorrinho a ele, um Shiba Inu que ele ama. O cachorro protege também a casa, então valeu o investimento. Matteo criou mais responsabilidade, pois é ele que dá comida, água e leva para passear.
Parando de enrolação, vamos direto ao assunto. Hoje Matt tem uma excursão de turma para um observatório. Eles estão aprendendo sobre os planetas e galáxias, a parte básica, claro. Matt vem até mim com feição nervosa, eu arqueio a sobrancelha e ele pergunta:
- Eu tenho mesmo que ir?
- Sim.
- Porque? É só dizer que eu estou passando mal.
- Não vou mentir só para você ficar em casa. Você tem que ir, é algo muito importante que vai fazer, é importante aprender o que você está aprendendo.
- Não é melhor ir sozinha? Pensa bem, menos uma criança gritando no carro!
- Você não grita no carro, Matt. E não seja por isso, eu amo a sua companhia. - Sorrio com ironia e ele faz bico. - Vamos filho, você vai gostar, tenho certeza.
Entramos no carro. Do banco da frente, consigo ver o nervosismo de meu filho pelo espelho. Ligo o carro e começo a dirigir. Permanecemos quietos por alguns minutos, até que Matteo começa de novo:
- Mamãe… - Interrompo antes que ele comece a insistir novamente.
- Não, Matteo, já estamos quase chegando na escola! O que tem de errado em ir para um observatório?
- Eu não quero ir!
- Não fazemos só o que queremos, meu bem. E outra, se você não for para a escola em dia de excursão, eu vou ter que ficar acordada até às 02 horas da manhã te ensinando sobre planetas para você não ir mal na prova. Além disso, todo mundo vai ficar olhando feio para mim e eu vou perder o respeito dos meus alunos. - Falo e ele fica quieto. - Vai lá Matt, eu te acompanho. Não precisa ficar nervoso, ok? Qualquer coisa pede para a professora ligar pra mim. - Ele assente, tirando o cinto e pegando sua mochila.
Pego minhas coisas e saio do carro, encontrando Matteo na calçada e dando uma mão a ele. Andamos um tanto até chegar no lugar onde a turma dele está, normalmente ninguém chega nesse horário, mas como é dia de excursão todos chegaram cedo. Avisto a professora dele e vou até ela.
- Oi Ju! - Cumprimento Júlia
- Oi Liza! - Ela me cumprimenta.
- Você que vai com eles na excursão, não é?
- Sim, sou eu.
- O Matt está me parecendo um pouco nervoso, falei pra ele te pedir pra me ligar qualquer coisa, certo?
- Certo. Porque ele estaria nervoso?
- Também não sei, ele ama excursões. Não vejo ele assim desde que a antiga professora de história saiu da escola.
- Entendo ele. Aquela mulher quase faz parte da história. - Rimos.
- Bem, qualquer coisa me manda mensagem ou liga. Tenho que ir. Reunião. Tchau!
- Tchau! - Ela diz quando já estou longe.
Chego na sala de reunião e percebo que já havia começado. Passam-se pouco mais de 40 minutos e a reunião continua com uma apresentação de slides da coordenadora dos anos iniciais. Enquanto ela fala, meu celular começa a tocar, peço licença e vou para fora da sala. Era a Júlia.
- Oi, está tudo bem?
- Sim, mas o Matteo quer falar com você.
- Pode passar pra ele?. - Peço e ela passa.
- Mamãe?
- Oi, filho, pode falar.
- Pode vir aqui me buscar?
- Filho, eu estou em uma reunião, não pode esperar?
- Vai demorar muito?
- Não sei, mas porque? Aconteceu alguma coisa?
- Mamãe, quando eu olho pro céu, o meu coração acelera, eu fico muito nervoso, eu sinto vontade de… Como se chama mesmo quando você dorme mal?
- Desmaiar? - Pergunto um pouco confusa e preocupada.
- Isso, isso aí.
- Está com medo filho? Tá tudo bem?
- Eu tô com muito medo, só não falei isso porque achei que você ia ficar brava comigo..
- Tá tudo bem, meu amor. Não precisa segurar essas coisas dentro de você. Estou indo te buscar aí, ok? Fala para a professora que você não vai ficar aqui, que você vai embora comigo, ok?
- Ok.
- Passa para ela, por favor? - Ele passa.
- Oi Liza, tá tudo bem?
- Ju, estou indo buscá-lo, leva ele para dentro e fica por perto, por favor.
- Ok, aconteceu algo?
- Te conto em uma hora melhor.
- Ok.
Entro na sala do diretor e me explico. Pego minhas coisas e saio da escola para buscar Matteo.
Uns 5 minutos depois, chegamos em casa. Conversei com Matteo e ele me explicou o que sentiu. Ele realmente estava com muito medo. Uma meia hora depois, estou na sala com o notebook no colo, pesquisando sobre o medo de Matteo para ver se tem algo por trás. Descobri que o medo dele se chama Fobofobia, o medo do céu, das estrelas, planetas, e todos os astros.
Enquanto eu pesquiso e me assusto cada vez mais, meu marido chega do trabalho e me cumprimenta. Explico a ele tudo o que aconteceu e ele também se assusta. Depois do susto, ele pensa um pouco, e tudo o que ele fala é:
- Então era por isso que ele chorava toda vez que a gente botava ele para dormir com aquele móbile de planetas. E eu pensava que era o colchão do berço… Vou me desculpar com a atendente da loja de colchões. - Ela fala e vai correndo ao telefone.
Medo de pessoas - Crônica Valentina Dilly
Heloisa, estava cansada, porém, tinha que sair de casa. Ela vai até o armário para escolher sua roupa e fala consigo mesma:
- Nada muito chamativo para evitar que olhem para mim.
Ela vai mexendo em suas roupas até achar uma vestimenta na qual se sinta confortável. Do armário, ela tira uma calça jeans larga com a barra dobrada, uma camisa preta um pouco grande e um tênis preto de cano alto . Ela se arruma e vai tremendo em direção a porta. Ela sai e vê seu vizinho passando. Cabisbaixa, ela segue em frente e sua mente se enche de pensamentos:”Ai meu Deus! Será que ele está olhando para mim? E se minhas roupas estiverem muito chamativas? Eu deveria ter botado outra roupa, talvez uma leggin? Enfim, ele com certeza está me julgando”.
Ela respira fundo e segue em frente. Seus pensamentos a dominam: “Ufa! Deu tudo certo até agor..AAA”
A menina tropeça de nervosa e cai no chão. Em alguns segundos os pensamentos dominam sua mente e aquela sensação de julgamentos volta a ela. Ela sussurra para si mesma:
- Eu quero voltar para casa! - diz em voz alta.
Ela se levanta devagar e verifica se não tem ninguém ao redor. Por sorte, ninguém a viu.
- Que sorte! Mas..será que alguém viu pela janela? E se alguém gravou e postou na internet? Eles devem estar me humilhando.. será que alguém vai me reconhecer na rua por conta do vídeo? E se cair nas mãos das pessoas da escola? Eu vou ser zombada para sempre. E se eles colocarem fotos desse vídeo pela cidade? Eu quero mudar de cidade! Mas será que pessoas de outras cidades já viram o vídeo? Para onde eu vou? Como vou explicar para os meus pais? Depois eu penso nisso..
Enquanto tudo isso se passa na cabeça dela, ela chega ao seu destino. Heloisa levantou a cabeça novamente, e viu que o lugar estava cheio de pessoas. Nervosa, a menina começa a tremer, suas mãos começam a suar e seu coração bate cada vez mais rápido. Um moço que estava no corredor ao lado, percebe que a menina está nervosa e diz:
- Moça, está tudo bem? Até parece que você viu um fantasma!
A menina, que não prestou muita atenção no que o rapaz disse, fala:
- Desculpe, fantasmas? Já tem pessoas suficientes aqui para eu ficar assustada. Agora fantasmas também?
O rapaz olha para ela com uma cara confuso enquanto ela vai rapidamente pegar o que deveria no lugar. Com pressa, ela volta para casa com sua cabeça cada vez ficando mais pesada com pensamentos.
“O que será que aquele moço vai pensar de mim agora? Será que ele reconheceu o vídeo? Ele deve estar falando mal de mim. Ahh, como eu odeio sair de casa!”
A menina chega em casa, larga as compras que ela fez no mercado no balcão e vai correndo para o quarto checar a internet.
- UFA! Não tem nada aqui. - Ela fala para si mesma, aliviada. Por um momento ela relaxou e seus olhos se encheram de lágrimas.
- Por que eu tenho que sair de casa? Parece que as pessoas estão todas me olhando!
Ela vai conferir as compras do mercado e percebe que esqueceu o queijo.
- Droga! Vou ter que sair de novo!
Heloísa se prepara para sair novamente, e abre a porta. No momento em que abriu a porta, ela viu que a rua em frente estava cheia de pessoas.
A menina rapidamente bate a porta e fala
- Não! De jeito nenhum vou sair lá fora! Hoje a janta vai ser sem queijo.
Cansada, ela sobe para seu quarto novamente, deita na sua cama e dorme em um piscar de olhos.
Rapunzel corte seus cabelos - Milene
Poucos devem saber, mas existe uma fobia de pelos e cabelos, chamada Caetofobia. Pessoas com essa fobia cortam seus cabelos bem curtos ou raspam a cabeça.
Eu não sabia sobre essa fobia até decidir ir ao cinema com minha filha. Ela ama as princesas. Sua favorita é a Rapunzel, uma menina de cabelos loiros, lisos e dourados. Por acaso esse era o filme que estava passando. Não poderíamos perdê-lo. Quando a nossa sessão iniciou, sentamos nas cadeiras mais ao fundo da sala. À nossa frente estava um homem de cabelo curto e castanho com uma expressão estranha no rosto. Ele se virou e perguntou:
- Boa tarde senhora, saberia me responder porque há tantas crianças em uma sala onde vai passar um filme de terror?
- Boa tarde, desculpe se estiver errada, mas essa sessão é para ver Rapunzel.
- RAPUNZEL?
Ele retornou à posição original em seu assento e tremia muito. Logo em seguida, um casal se aproxima e pergunta se a cadeira ao seu lado estava vazia. Imediatamente o homem responde:
- Obrigado, mas estou de dieta.
O casal achou estranho, mas decidiu sentar mesmo assim.
O filme começou em seguida. Quando Rapunzel apareceu no telão pela primeira vez, o homem deu um grito. Todos olharam para ele ao mesmo tempo. Ele estava pálido e parecia angustiado.
Vendo isso, decidi perguntar :
- Tudo bem, senhor? - Falei baixinho.
Ele não respondeu, mas deixei de lado pois não queria atrapalhar minha filha.
Ele estava angustiado, começou a suar frio, se encolheu na cadeira e assim ficou por um bom tempo. Tudo mudou quando Rapunzel apareceu novamente. O homem deu outro grito, fazendo com que todos olhassem para ele.
A tranquilidade chega apenas quando Rapunzel aparece com o cabelo curto pela primeira vez, mas esse sentimento não se destaca, pois naquela altura não havia mais quase ninguém na sala escura, a maioria já havia desistido da sessão por achar que o homem era louco. O homem, vendo que poucas pessoas ainda estavam no cinema, virou- se para trás e me perguntou:
- Porque as pessoas abandonaram o filme? Ele ainda não acabou.
- Não sei senhor, talvez tenha alguma aranha. - Disfarcei.